quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Consumismo na sociedade capitalista

Olá...
Queria dizer que é um longo artigo, mas que vale muito a pena ser lido e ao final assista ao vídeo que postei para que as idéias fiquem ainda mais claras.

1. Introdução

          A exploração sensorial humana repercutiu no desenvolvimento intelectual, no progresso tecnológico, na transformação da sociedade de subsistência para a de consumo. Valores foram transgredidos, concepções alicerçadas em ideologias profanadas pela ganância, posse irrestrita, consumo desmedido. Os insumos foram propagados e os reflexos são inexoravelmente problemáticos.
          Nesse novo milênio, pode surgir como uma possibilidade democrática de conscientização e alteração, de formulação de novas teorias e práticas que, em menção da sobrevivência saudável do homem ser aspecto questionável perante este cenário de modernidade, pode contribuir para o desenvolvimento de valores, atitudes e comportamentos mais positivos em relação à saúde e qualidade de vida (Sérgio, 2001; Nahas, 2003).
          O aprimoramento do mundo capitalista foi repercutido pela visão mercantilista posterior a era feudal, sendo enfatizada pela expansão ultramarina e revolução industrial. As duas grandes guerras igualmente promoveram a produção em série e em larga escala, sendo então a partir desta época regido por ideais de consumo, aspecto de compra e venda, de necessidades. Em conseqüência disto, o homem adquiriu hábitos de vida deletérios, obcecado pelo poder aquisitivo para possuir os produtos divulgados pela sociedade de consumo (Carvalho, 1998b; Pedro, 1981).
          Atualmente, a sociedade ocidental é fundamentada pelo poder da mídia (televisão, livros, revistas, jornais, novelas, filmes), marketing e propaganda. Os devaneios motivados pelo delírio ocasionado pelo desejo exacerbado de acúmulo de capital repercutem na degradação ambiental, exploração sexual, discriminação, preconceito, exclusão, problemas de saúde, entre outros. O mundo será ainda mais demarcado por países desenvolvidos e subdesenvolvidos, a produção e o trabalho serão destinados a um fim determinado pelo sistema forjado por aspectos políticos e econômicos do neoliberalismo (Carvalho, 1998b; Richers, 1981)
          A mudança de mentalidade faz-se necessária, eliminar equívocos futuros, resgatar valores e formular novas teorias.


2. A sociedade de consumo

          De acordo com Martínez Alvarez (1999), a singular inovação tecnológica alicerçada na crença do rudimentar desenvolvimento intelectual, predispõe o homem primitivo como ser pouco inteligente, é amplamente difundida na precária rede de difusão de informação. Em conseqüência disso, o entendimento sobre o desenvolvimento histórico e universal do ser humano passa a ser desconsiderado como prioridade pelos detentores do poder.
          O ser humano é uma construção histórica que adquire seus valores e objetivos baseado em estereótipos, em fundamentos alicerçados, atualmente, em uma mentalidade mecanicista legitimada pelo padrão capitalista de qualidade de vida que, caracteriza a realização individual pelo acúmulo de bens materiais. Os reflexos desta mudança comportamental a partir da era pré-histórica são diretos, repercutindo na sociedade como responsabilidade inerente de transladação desse raciocínio em beneficio da satisfação e harmonia coletiva (Sérgio, 2001; Carvalho, 1998a).

2.1. Explosão do consumo

          Pedro (1981) explica que a Era do Obscurantismo (Idade Média), quando a igreja presumia o controle do fluxo de pensamento, arte e comércio, as pinturas apenas poderiam representar cenas religiosas, a salvação apenas concedida através de 'dinheiro', a ciência enveredada pelo misticismo, indivíduos acusados de bruxaria, excomungados por desrespeitar Deus, carnificinas em praça pública.
          Após advento deste período, sucede o feudalismo, ocorre o ressurgimento do comércio, sociedade dividida em feudos, comércio baseado na troca, o surgimento do excedente passa a ser vendido, gerando algum lucro. Após queda do feudalismo devido às invasões bárbaras, ocorre renascimento comercial, a renascença, a expansão ultramarina, a reforma religiosa, revolução industrial culminante na configuração atual do capitalismo.
          No final da II Guerra Mundial (1940-1945) a produção global de bens apresentava crescimento vertiginoso, aumenta número de automóveis, o consumo de petróleo eleva-se, a maior produção e oferta de bens materiais favorece o surgimento de uma sociedade que faz apologia ao consumo. Surgem os típicos problemas atuais: obesidade, ausência da prática de exercícios físicos, estresse, sedentarismo, ou seja, os fatores de risco (Carvalho, 1998b).
          Esta concepção de comércio, de consumo versus produção, gera a divisão de países, em de Primeiro e Terceiro Mundo, gerando as desigualdades sociais hoje existentes, o maior flagelo causador dos problemas reinantes (Carvalho, 1998a).

2.2. Poder da mídia

          O modelo comportamental é calcado em estilos de vida apresentados pela mídia, através de novelas, filmes, revistas e demais fontes. São elementos padronizados, referenciando o melhor modelo físico, a mais oportuna posição social, a formação intelectual mais apropriada, o vestuário mais elegante, as músicas mais modernas, o pensamento mais digno (Canclini, 2002).
          A reverência ao corpo perfeito promove o uso de anabolizantes com todas as suas conseqüências danosas à saúde como: atrofia de mamas e testículos, câncer de fígado, crescimento exagerado de pêlos, infertilidade, engrossamento de voz nas mulheres. As perigosas dietas alimentares se multiplicam e são veiculadas como saudáveis e milagrosas. Possivelmente, a referencia da mídia ao corpo perfeito tenha gerado milhares de casos de bulimia (indução ao vômito após alimentação) e anorexia (ausência de ingestão de comida). Além disto, há a prática de exercícios físicos de forma demasiada, ocorrendo lesões sérias e traumatismos.
          O sobrepeso, visto hoje como o grande vilão da sociedade moderna, muitas vezes é corrigido com a adoção de intervenções cirúrgicas (lipoaspiração, cirurgia para redução do estômago), quando o problema poderia facilmente ser compensado através de dieta alimentar apropriada e prática de atividades físicas.
          A auto-imagem é abalada perante a adoção de modelos-padrão, cujas estruturas corporais são consideradas perfeitas, sendo na realidade uma ilusão, apenas imagens construídas e recobertas por muita superficialidade e, muitas vezes, construídas por recursos tecnológicos de computação gráfica (ex: fotoshop). Progressivamente o número de cirurgias plásticas aumenta, sendo muito grande a busca por correções no nariz, orelhas 'de abano', lipoaspiração, aumento de mamas.
          Outra problemática é a precoce sexualidade infantil, o aparelho televisivo desrespeita grande faixa etária de seus telespectadores, não enquadrando sua programação por idade e horário.
          Gonçalves (2002) afirma que as drogas lícitas (cigarro, álcool) foram por diversos anos estampadas como sinônimo de liberdade, auto-afirmação e poder. O indivíduo ao fazer seu uso obtinha aceitação geral do grupo ao qual pertencia. Erroneamente é a ferramenta que muitos utilizam como forma para combater a depressão, timidez, estresse, insatisfação pessoal. Principalmente os jovens ao defrontarem-se com um mundo muito diverso daquele que imaginavam na infância, desolam-se, e por isso, conforme Renato Russo: "... e há tempos são os jovens que adoecem, e a tempos o encanto está ausente".
          Exibe-se muita violência, erotização, programas sem cunho educativo, retratos do entretenimento que agridem a dignidade humana. A internet que deveria ser utilizada como suporte a intelectualização, apresenta como seus sites mais visitados: pornográficos e jogos.
          Abolir a estes ditos é pertencer à classe dos excluídos e retardatários na modernidade. Prevalece a discriminação como forma de salientar a aceitação de apenas o que é estabelecido como belo, como melhor. Inviabiliza-se a individualidade, a possibilidade de escolha. O espectador é visualizado como ser irracional, o ócio induz à real aceitação dos valores impostos sem utilização do senso crítico peculiar do homem, sendo gradativamente alienado, embutido de crenças favoráveis a poucos.
         
2.3 Sociedade do desperdício

          De acordo com Pena (1999), perante produção arraigada pela competição industrial, aliada ao poder de marketing, ocorre à indução do homem à crença da necessidade de produtos os mais diversos, que muitas vezes são inúteis, ou facilmente poderiam ser substituídos por outros mais facilmente acessíveis. O constante progresso emite a idéia freqüente de obsolência e a modernidade torna tudo ultrapassado em espaço minúsculo de tempo.
          Muitos destes produtos possuem ciclo de permanência efêmera, facilmente exemplificada através dos descartáveis, como os copos plásticos, garrafas de refrigerante, além de latas de conservas, latas de cerveja, bebidas e líquidos diversos em vasilhames de vidro não-retornáveis e muitos outros. Esta dinâmica aumenta drasticamente a produção anual de lixo, não havendo muitos locais apropriados para a sua deposição.
          A reciclagem é medida viável, mas a consciência do racionamento e reaproveitamento é primordial. Os resíduos quando não postos em local adequado, podem afetar a qualidade dos lençóis freáticos minando a qualidade da água. Excesso de lixo nos rios e nas cidades de forma geral promove as enchentes. É igualmente o maior fator de poluição marinha, extinguindo muitas formas aquáticas e originando áreas impróprias para banhistas.
          Toneladas de alimentos não são consumidos, muitos entram em estado de putrefação, quando poderiam constituir como elementos do cardápio de escolas, creches, asilos, instituições de caridade. Peças de vestuário ainda em condições de uso são eliminadas, e poderiam obter similar fim dos alimentos. Ocorre ainda o desperdício da água, constituindo esta a possível causa de uma grande terceira guerra. Litros são gastos em banhos demorados, lavagem de carros, calçadas, higiene bucal, problemas na tubulação (vazamentos). Isto será no futuro um empecilho, visto que o processo de retira do sal da água é bastante dispendioso.
          A atividade física por intermédio do condicionamento do trabalho em grupo, respeitando a individualidade e as conseqüências das ações particulares sobre o conjunto maior, pode auxiliar na fundamentação da consciência ambiental perante a preocupação da saúde do mundo. Pois é prioritário para a manutenção da qualidade de vida, a disponibilização de condições ambientais, sociais e econômicas. Isto em vista do bem-estar físico e mental ser inerente aos aspectos primários (genéticos) como igualmente aos aspectos do meio, e a preocupação e responsabilidade social perante este quesito não devem ser tardias, evitando maiores problemas futuros.

2.4. Ideologia do conforto

          Segundo Pena (1999), inerente ao aspecto da sociedade de consumo está a aderência ao luxo, à ambição desmedida, cuja ascensão social torna-se objetivo primordial de uma existência. Nesse sentido, a qualidade de vida não se enquadra em sentir-se intimamente realizado (de acordo com suas aspirações individuais), e coletivamente (ser útil para a sociedade). Apenas a satisfação individual constitui, segundo alguns, a designação de qualidade de vida.
          Santos (2003), constatou que a qualidade de vida, na visão de estudantes universitários de ciências tecnológicas, é fruto das conquistas de aspecto material, de status, de poder econômico e de posição hierárquica. Na realidade esta concepção é conduzida pelo modelo capitalista que induz ao forte poder de consumo, e paulatinamente o necessário não é suficiente. Deter o melhor produto, a mais valiosa preciosidade, os mais diversos tipos e modelos de elementos é fundamental.
          A princípio esta idolatria inicia com a necessidade do poder aquisitivo aos recursos básicos: alimentação vestuário, moradia, educação, saúde. Ou seja, a sobrevivência é determinada por intermédio do dinheiro, e a ideologia ao conforto, através das apelações constantemente bombardeadas através do marketing é amplamente facilitada (Richers, 1981). Paulatinamente esse desejo da posse cresce, gerando círculos viciosos onde quanto mais se têm, mais se quer. É a ambição, o consumo exacerbado.

2.5. Problemas Físicos e Mentais
         
          Ocorrências de estresse, depressão, sedentarismo, distúrbios de sono (insônia), dificuldade de concentração, má alimentação, obesidade, colesterol aumentado, hipertensão arterial, diabetes, são algumas conseqüências vigentes desta sociedade, sendo gradativamente agravados com o passar do tempo em decorrência da má adaptação do organismo humano ás alterações ambientais promovidas pelo sistema de produção e consumo vigente ( Goldenberg & Elliot, 2001; Guedes, 1995; Nieman, 1999).
          A conscientização promovendo a recepção de um estilo de vida saudável é uma forte aliada à promoção da saúde, aliviando e, em alguns casos, eliminando distúrbios (mentais e físicos). Reduzir substancialmente os níveis de inatividade física é uma das principais metas dos governos do primeiro mundo, pois as evidencias tem demonstrado insistentemente que a atividade física de lazer estimula a auto-estima e proporciona benefícios à aptidão física relacionada à saúde.

2.6. Crescimento da indústria farmacêutica

          Em virtude aos diversos distúrbios orgânicos comentados anteriormente e aos ideais do sistema capitalista, os laboratórios de pesquisa médica proliferam fórmulas químicas onde todas apresentam o mesmo princípio ativo. Além de em muitos casos a solução fundamental não residir em medicamentos desta linha de atuação, sendo suficiente à adoção de atitudes e formas de comportamento pouco diversos dos padrões comportamentais exigidos pela sociedade de consumo. Toda substância química apresenta efeitos múltiplos no organismo, sendo possível afetar órgãos debilitando a saúde.
          A atividade física pode promover a melhora de muitos aspectos negativos à integridade física, reduzindo o consumo de muitos remédios que podem não resolver o problema. A medicina alternativa, técnicas de relaxamento (prece, meditação, massagem), dieta alimentar balanceada, prática de atividades físicas, noites de sono tranqüilo, lazer ativo, abandono de comportamentos de risco, são alguns dos elementos que garantem o que é estritamente necessário na área médica convencional (Goldenberg & Elliot, 2001).

2.7. Degradação Ambiental

          Pena (1999) acredita que o consumo exagerado repercutirá no futuro do planeta, cujas conseqüências podem ser nefastas, pois a ação desmedida e a ambição anulam o raciocínio sistêmico, onde não há culpados, o ser humano simplesmente constitui parte de um universo e mantém relações com seus elementos, e a solução reside em seu relacionamento com o "inimigo". As mudanças ocorridas ao longo dos anos, poluição excessiva da água, solo, atmosférica, sonora, expansão da exploração mineral, da produção econômica, além do crescimento populacional sem controle adequado de natalidade, originarão alterações que o planeta talvez não comporte.
          Estes fatores influenciarão na qualidade de vida, pois recursos diversos estarão escassos e alguns indisponíveis, alterando a constituição primária (genética) dos organismos vivos. A adequação à nova realidade exigirá esforços desconhecidos, cujos resultados igualmente são imprevisíveis. Em menção a isto, a responsabilidade social e bom senso crítico são essenciais na seleção das atitudes atuais (Krüger, 2001; Pena, 1999).
         
3. Considerações finais

          O consumismo inconsciente está arraigado em desastres que comprometerão o futuro mundial, proliferando a idéia do estabelecimento de uma sociedade alicerçada no desenvolvimento sustentável (desenvolvimento baseado em princípios que permitem a sustentação do sistema por longo período de tempo, sobrevivendo perante intervenções que garantem seu melhor funcionamento e evolução). A concepção mecanicista torna-se insensível na visualização do ciclo de eventos, da causa e efeito que irrompem (aparecem, brotam) em qualquer sistema.
          Investir na mudança de hábitos (comportamentais, sociais, físicos), a alteração de enfoques de vida, a visualização da importância da boa convivência no grupo maior. Incentivar a conquista da saúde positiva (individual que reflete na coletiva), ou seja, designada pela capacidade de ter uma vida dinâmica e produtiva, confirmada geralmente pela percepção de bem-estar geral.
          Os elementos que debilitam a qualidade de vida devem ser combatidos através da aceitação de um estilo de vida ativo e saudável baseado na alimentação balanceada, prática constante de exercícios físicos, abandono do consumo de drogas lícitas (cigarro, álcool) e ilícitas (maconha, cocaína), pratica de sexo seguro, ser adepto do lazer ativo, não ultrapassar os limites do organismo, manter bom relacionamento interpessoal, respeitar os horários de sono, evitar situações de acentuado nervosismo e irritação, praticar técnicas de meditação, relaxamento.

Esse vídeo (a história das coisas) foi exibido numa das minhas aulas com o Professor Betinho...
Queria agradecê-lo pela paciência que teve durante todo o ano.


A história das coisas

0 comentários:

Postar um comentário