terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Quer economia de verdade? Pague à vista

Com o maior juro do mundo, comprar no Brasil é bem mais barato se feito de uma só vez. Poupar para pagar no ato pode evitar que o custo final seja o dobro

Quer economia de verdade? Pague à vista

          Ano novo, sonhos de consumo novos. Casa, carro, viagens, eletrodomésticos, pós-graduação no exterior, etc. Com renda em expansão e crédito, muitos produtos passaram a caber no bolso do brasileiro. Ficou mais fácil consumir e também sucumbir ao endividamento. Como o Brasil segue invicto como detentor da maior taxa de juro real do mundo, vale muito mais a pena poupar e fazer compras à vista do que entrar num financiamento; sem contar que esta última opção, se mal administrada, por se tornar uma armadilha.
          Especialistas ouvidos pelo site de VEJA aconselham os consumidores a colocar na ponta do lápis as parcelas do empréstimo e o prazo necessário para quitá-lo, levando em consideração os juros. Não se deixe enganar pelo valor da parcela, mesmo que ela se encaixe no orçamento. A conclusão é que um bem ou serviço financiado pode custar o dobro do que se fosse adquirido à vista. Visto de outro modo, considerando-se um valor fixo de contribuição mensal, consegue-se bancar o produto almejado na metade do tempo. É preciso frisar ainda que muitas empresas ainda dão desconto ao receberem o valor da venda de uma só vez.
          Calculos feitos pelo economista George Ohanian, professor de finanças pessoais do Insper, permitem comparar estas opções. Uma pessoa com renda de 10 000 reais, por exemplo, ao poupar 15% de seu salário mensalmente, ou seja 1 500 reais, consegue pagar um automóvel que custa 50 000 reais à vista em três anos e meio, considerando um rendimento da aplicação em 0,5% ao mês. Com um financiamento a uma taxa de juros de 2,50% ao mês e uma parcela de igual valor (1.500 reais), o mesmo bem demoraria o dobro do tempo para ser quitado. Para que o pagamento fosse concluído em três anos e meio, a parcela mensal sairia 600 reais mais cara, consumindo 21% do salário. “Dependendo da taxa de juro, o tempo que se demora para pagar a dívida é tão grande, que se gasta o suficiente para comprar duas vezes aquele bem”, alerta Ohanian.
          Ciente da vantagem de comprar à vista, a dentista Larissa Freschi, 27 anos, de São José do Rio Preto (SP), já incorporou o planejamento financeiro ao seu dia-a-dia. Em apenas dois anos, ela juntou dinheiro suficiente para trocar seu Ford Fiesta modelo 2003 por um Renault Sandero 2010 completo, sem apelar para o financiamento. Para isso, poupou a cada mês aproximadamente 30% de seu salário. E ela já tem o dinheiro para pagar o IPVA de 2011. “Pesquiso muito antes de comprar qualquer coisa e só compro o que estiver em promoção ou for mais barato. Sempre penso se realmente preciso daquilo”, afirma. O costume de poupar foi reforçado pela sua condição profissional. Larissa é autônoma e sua renda varia mês a mês. Além disso, ela não pode contar com o 13º salário. “Se acontecer alguma coisa que me impeça de trabalhar, como vou fazer? Preciso ter um dinheiro guardado”, avalia.
        Planejamento – Larissa traduz na prática velhas dicas dos especialistas: estabeleça um objetivo, faça um planejamento para atingi-lo e tente não sair da linha. “É importante saber quanto se quer poupar e o que fazer com o dinheiro. Isso funciona como elemento motivador do planejamento”, ensina o professor do Insper. Uma vez tomada a decisão, é preciso mapear os gastos dispensáveis, e acompanhar o orçamento familiar mensalmente. Atitudes como analisar o extrato bancário, guardar os comprovantes de pagamentos dos cartões de débito e crédito e levar uma lista de compras ao supermercado facilitam na hora de elencar e eliminar despesas desnecessárias. “É surpreendente como descobrimos quão grande são gastos supérfluos ou substituíveis”, avalia Ohanian.
          Para atingir os objetivos mais rapidamente, é preciso tomar cuidado extra com outro vilão da poupança: as compras por impulso. Para os descontrolados, a recomendação é deixar o cartão de crédito em casa. Ao não ceder à tentação imediata das vitrines, o candidato a gastador por reavaliar a ideia em casa, com calma, e até abandoná-la.


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